terça-feira, 29 de setembro de 2009

Duro de morrer, de matar, de viver...

Há quem diga que são seres alienígenas. Há quem acredite que fazem parte de uma conspiração terrorista. Há até quem acredite que elas são apenas instrumentos nas mãos de seres mais evoluídos. Mas o fato é que elas são no-jen-tas.

Baratas são seres desagradáveis e conseguem estragar, ou pelo menos atrapalhar qualquer programa. Porque mesmo que não haja pânico instaurado, sempre haverá um macho destemido - ou exibido - e/ou uma mulher a fazer escândalo.

Abre parênteses - ainda que seja apenas um gritinho, será sempre considerado um escândalo pela ala masculina - fecha parênteses.

Já estava eu em estado terminal assistindo o Boris Casoy e criando forças para terminar meu dia nos braços de Morfeu - leia-se cochilando na sala - quando sou surpreendida com uma pancada na lateral do sofá no qual me encontro. Levanto-me de supetão (gosto dessa palavra) e visualizo Marido com um jornal na mão.

- Que é isso, homem! Tá maluco?? - indaguei tão logo recuperei o fôlego.
- Uma barata - revelou Marido com olhos arregalados - Enorme!
- Matou?
- Não.

Era toda a informação que eu precisava para saltar para o outro sofá e deixar que Marido concluisse sua tarefa. De jornal em punho, herculeamente, Marido levantou o móvel, olhou atrás do dito, olhou embaixo, olhou em cima, tirou a manta, ignorando minhas sugestões de pegar o inseticida e meus pedidos de silêncio para não acordar Baby e me deixar ouvir o Bóris.

Finalmente sentou-se no sofá com atitude de dono do pedaço. Súbito (também gosto dessa palavra) Marido pula para o meio da sala, abanando-se tal qual um mamulengo do Recife. Imaginou que a barata estava passeando por seu corpinho. Indignado, sentou-se numa cadeira, de frente para o sofá, jornal em punho, aguardando que a inimiga desse sinal de vida.

Preocupada com a possibilidade do inseto imundo fazer ninho dentro do sofá, ou pior, sair perambulando pela casa à noite e chegar aos meus aposentos ou os de Baby, enfatizei para que meu herói usasse de métodos mais civilizados e ecologicamente incorretos: inseticida. Atendido o pedido da mocinha, Marido descarregou 1/4 da lata embaixo do sofá e mais algumas borrifadas preventivas em volta.

Satisfeito e com ar de superioridade intelecutal, dirigiu-se à área de serviço para guardar a arma mortal. Mas eis que vejo o ser infame - a barata, não o Marido - do outro lado da sala, no alto da parede, na quina com o teto. E calmamente solicito a presença urgente do macho da casa, imaginando que ele viria munido com a arma superpoderosa.

Ledo engano... Marido aparece primeiramente desarmado. Visualiza a nojentinha abrindo asas, querendo voar, faz um muxoxo de quem pensa que sabe o que fazer, traça a estratégia, vai até a cozinha e volta armado... de uma arma primitiva matadora de insetos cuja ineficiência é comprovadamente proporcional ao estrago que pode proporcionar a móveis e objetos frágeis no seu raio de ação: o chinelo. Aliado à falta de mira do algoz e esperteza da vítima, as consequencias podem ser graves. Aconselho a só usarem na total ausência de armas civilizadas ou em caso de urgência, quando a omissão pode ser mais desatrosa que a ação.

Pois bem, Marido me aparece, chinelo em mãos, sobe na cadeira de rodinhas - sim, rodinhas - do computador. Ainda tentei argumentar a respeito da eficiência do inseticida, mas em vão. Marido estava seguro de sua capacidade exterminativa. De um golpe, atinge a desagradável que cai, viva, em cima de Marido. Este, por sua vez, sobre a instável cadeira de rodinhas, tenta esquivar-se do inseto, por pouco não despenca ele também.

A sobrevivente desaparece misteriosamente outra vez e Marido conclui que o único local possível para ela se esconder seria sob o rack. Ele agaixa-se para manter contato visual enquanto eu vou buscar o inseticida. Borrifei em baixo do móvel e decretei: agora ela morre.

Mas Marido não fica satisfeito. Seu orgulho de macho protetor da família quer a certeza da morte do inimigo. Lanterna nas mãos, deitado no solo encontra a morimbunda, bem lá no fundo do móvel, a debater-se no último sopro de vida que lhe resta. Mas Marido precisa imprimir a sua marca pessoal na morte do ignóbil animal, como nos velhos tempos da caverna. Marido pega outra arma primitiva e declara:

- Conhece sinuca de bico? Atenção para o barulho.

E com o cabo do rodo desfere o golpe de misericórdia na pobre alma - yeargh. Levanta-se, cabeça erguida, sorriso nos lábios. Agora sim, seu orgulho masculino estava recuperado e ele volta a ser o herói da família.

Fim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pode apostar que as formigas não param de aparecer desde então!